quarta-feira, 30 de agosto de 2017

A Feira do Livro do Porto 1 a 17 setembro 2017 é dedicada a Sophia de Mello Breyner

A Feira do Livro do Porto 2017 é dedicada a Sophia de Mello Breyner
A Feira do Livro do Porto realiza-se de 01 a 17 de setembro nos Jardins do Palácio de Cristal e terá a escritora Sophia de Mello Breyner como homenageada. Esta é a quarta vez em que o evento é organizado pela autarquia que, em conferência de imprensa na Galeria Municipal, apontou que a configuração e o número de pavilhões será o mesmo do ano passado – 131 – e admitiu que poderá haver “mobiliário diferenciado” em algumas bancas para responder aos pedidos e sugestões dos alfarrabistas.
A Feira do Livro do Porto vai ser dedicada a Sophia de Mello Breyner, cabendo ao filho da escritora Miguel Sousa Tavares abrir o ciclo de debates no dia 02 de setembro, depois de uma cerimónia de homenagem na avenida das Tílias.
Antes, no dia 01, será inaugurada uma mostra dedicada a António Nobre na Galeria Municipal, espaço que acolherá uma “grande exposição” sobre os elementos naturais e o pensamento de Sophia, para a qual serão convidados quatro curadores.
No que se refere à programação, a feira do livro contará ainda com um colóquio dedicado a Júlio Dinis e com  animação dedicada a famílias e público jovem, debates, sessões de cinema e de ‘spoken-word’, música, espetáculos e atividades para a infância.
A Feira do Livro do Porto bateu, em 2016, um recorde de visitantes: mais de 250 mil visitas. Prevê-se que este ano supere as expectativas ( o orçamento será “semelhante” ao de edições anteriores).
O escritor Miguel Sousa Tavares agradeceu a homenagem a Sophia de Mello Breyner, vincando a “profunda relação da mãe com a cidade do Porto”.
“Todos os livros infantis, entre outros, da minha mãe têm referência ao Porto e o Porto tem sido grato à lealdade e amor da minha mãe à cidade”, referiu.



segunda-feira, 28 de agosto de 2017

Pensamento da Semana

Ensaia um sorriso
e oferece-o a quem não teve nenhum.
Agarra um raio de sol
e desprende-o onde houver noite.
Descobre uma nascente
e nela limpa quem vive na lama.
Toma uma lágrima
e pousa-a em quem nunca chorou.
Gandhi

28 de agosto Dia de Santo Agostinho

Santo Agostinho (354-430), filho de Santa Mónica,  foi um filósofo, escritor, bispo e teólogo cristão africano, responsável pela elaboração do pensamento cristão. Deixou uma obra literária gigantesca: foram 113 trabalhos, 224 cartas e mais de quinhentos sermões.
Santo Agostinho nasceu em Tagate, pequena cidade da Numídia, atual Argélia, na África. Foi educado em Cartago, grande centro de paganismo e a maior cidade do Ocidente latino, depois de Roma. De volta à cidade natal abre uma escola particular, onde ensinou gramática e retórica durante treze anos.
De espírito crítico e inquieto, abandonou o cristianismo e adotou o maniqueísmo, pretendendo seguir a força única da razão. Durante doze anos foi seguidor de Mani, profeta persa que pregava uma doutrina na qual se misturava Evangelho, ocultismo e astrologia.
Em 386, sob a influência de Ambrósio, bispo de Milão, Agostinho é convertido ao cristianismo. O resultado de sua conversão é o livro “Confissões”, onde revela os recantos de sua alma e os caminhos da fé em meio às angústias do mundo. Outra obra de grande destaque é “Cidade de Deus”, onde discute a questão da metafísica do pecado original contido na Bíblia.
Durante quarenta anos, desde que reencontrou a fé, Agostinho teve sua vida sobrecarregada. Primeiro constrói seu mosteiro. Torna-se depois sacerdote e bispo, encarregado inclusive de distribuir justiça em nome do império. É dele a frase: Compreender para crer, crer para compreender.
Santo Agostinho faleceu em Hipona, província romana na África, no dia 28 de agosto de 430. Foi canonizado por aclamação popular e reconhecido como Doutor da Igreja, em 1292, pelo papa Bonifácio VIII.

Frases e Pensamentos de Santo Agostinho:

"Se dois amigos pedirem para você julgar uma disputa, não aceite, pois você irá perder um amigo. Porém, se dois estranhos pedirem a mesma coisa, aceite, pois você irá ganhar um amigo."

 "Milagres não são contrários à natureza, mas apenas contrários ao que entendemos sobre a natureza."

"Certamente estamos na mesma categoria das bestas; toda ação da vida animal diz respeito a buscar o prazer e evitar a dor."

 "Se você acredita no que lhe agrada nos evangelhos e rejeita o que não gosta, não é nos evangelhos que você crê, mas em você."

 "Ter fé é acreditar nas coisas que você não vê; a recompensa por essa fé é ver aquilo em que você acredita."

 "A pessoa que tem caridade no coração tem sempre qualquer coisa para dar."

 "A confissão das más ações é o passo inicial para a prática de boas ações."

 "A verdadeira medida do amor é não ter medida."

 "Orgulho não é grandeza, mas inchaço. E o que está inchado parece grande, mas não é sadio."

domingo, 27 de agosto de 2017

27 de agosto Dia de Santa Mónica

Santa Mónica nasceu em Tagaste, na atual Argélia, possivelmente no ano de 331. Foi casada com Patrício, um homem que a maltratava e traía, mas que se converteu e batizou ainda antes de morrer graças ao esforço de Mónica.
Agostinho, um dos filhos de Mónica e Patrício, causaria também grandes desgostos à sua mãe. A vida de heresias de Agostinho levou a que Mónica intensificasse as suas orações, acabando Agostinho também por se converter, considerando a sua mãe como uma ponte entre ele e Deus. O fervor religioso de Agostinho transformou-o até mais tarde num santo e lendário Doutor da Igreja.
Santa Mónica faleceu em 387. Foi canonizada pelo seu poder de oração e pelo seu papel feminino no seio da família. Ficou para a história como a santa a quem os pais devem pedir e rezar para converter e ajudar os seus filhos.

quinta-feira, 24 de agosto de 2017

24 de agosto: dia de São Bartolomeu

São Bartolomeu festeja-se no Porto até setembro. 

Várias são as iniciativas no Porto para celebrar São BartolomeuUm mercado, missas, uma feira do livro e eventos literários, jogos, torneios desportivos  e "Sabores de São Bartolomeu" são algumas das propostas das Festas de São Bartolomeu em 2017, cujo ponto alto será a 27 de agosto, com o famoso Cortejo do Traje de Papel, tradição centenária que termina sempre com um banho de mar.

São João Evangelista chamou-lhe Natanael (dom de Deus), enquanto os restantes evangelistas (São Mateus, São Lucas e São Marcos) o designam por Bartolomeu – Bart-Tolomai, filho de Tolmai. De acordo com a tradição cristã, terá sido o esposo nas bodas de Caná, em que Cristo realiza o seu primeiro milagre ao transformar a água em vinho.
Acompanha Jesus até à Sua morte, participando e assistindo às Suas pregações, milagres e outros episódios da Sua vida. Estava presente à beira do mar de Tiberíades quando Jesus, após a Sua Ressurreição, apareceu a alguns dos seus apóstolos.
Atribui-se-lhe grande apostolado na Índia, na Arábia e na Arménia. Segundo a lenda, nesta última região, possuía o Demónio um oráculo, prática que consistia em responder às perguntas dos seus seguidores pela voz do sibilo (bruxo) Astaroth. Todavia, quando São Bartolomeu entra no templo, logo a voz do Demo emudece. O santo ordena então ao Demónio que anuncie o nome de Jesus Cristo como o do verdadeiro Deus e destrua os ídolos pagãos existentes nos templos. E assim acontece.
Convidado por Astiage, que governava uma parte da Arménia, o santo aceita o convite, mas Astiage, traiçoeiramente, manda esfolá-lo vivo e cortar-lhe a cabeça – lenda religiosa que nasce no século XIII, com a indicação do martírio a 24 de Agosto, se bem que a morte aponte, também, para a crucificação e afogamento.
O seu poder de exorcista permanece no imaginário religioso popular, daí resultando a devoção e as práticas relacionadas com as possessões ou estados entendidos como demoníacos, ou atribuídos a entidades incorporadas nos pacientes, a pesadelos, terrores e outras coisas mais.
Várias são as versões para a trasladação das suas relíquias. Uma delas aponta para Lipari, a norte da Sicília, conquistada pelos Sarracenos em 838, que profanaram o seu túmulo, espalhando os ossos de São Bartolomeu pelas ruas.
Diz-nos ainda a tradição que, por inspiração do santo, estes brilharam de noite como estrelas, tendo sido recolhidos, piedosamente, pelo monge grego Teodoro. As relíquias são levadas em 839 para Benevento (Nápoles), em cuja catedral se lhe preparou uma capela própria.
A 25 de Agosto de 1338 voltam a ser trasladadas para uma sumptuosa basílica. Destruída esta por um terramoto, os ossos do santo, encontrados intactos, regressam de novo à catedral. Numa outra variante, as relíquias repousam na Basílica de São Pedro, em Roma, enquanto uma outra indica que transitaram no ano 1000 para a Igreja de Santo Adalberto, igualmente em Roma.
Devido ao seu martírio, São Bartolomeu é o padroeiro daqueles que trabalham em peles: curtidores, luveiros e encadernadores, entre outros.

quarta-feira, 23 de agosto de 2017

Em férias: Sugestão de Leitura

Thomas Mann, figura cimeira da literatura do século XX e um dos romancistas mais celebrados a nível mundial escreveu também numerosos contos. A presente obra é uma seleção de alguns dos seus melhores contos, que constituem uma excelente forma de o leitor se familiarizar com o universo ficcionista do autor, até porque nalguns deles se reconhecem pequenos esboços dos seus romances mais importantes. Estes contos refletem a sua faceta lírica, mas também os conflitos éticos, sociais e políticos que tão profundamente caracterizam a obra de Mann.

segunda-feira, 21 de agosto de 2017

Pensamento da Semana

“O teste da educação bem-sucedida não é um rapaz ser reconhecido com os exames de escola, mas o que ele poderá fazer 10 anos depois".

Robert Baden Powell (BP)

domingo, 20 de agosto de 2017

Vitorino Nemésio

A Tempo

A tempo entrei no tempo,
Sem tempo dele sairei:
Homem moderno,
Antigo serei.
Evito o inferno
Contra tempo, eterno
À paz que visei.
Com mais tempo
Terei tempo:
No fim dos tempos serei
Como quem se salva a tempo.
E, entretanto, durei.
in 'O Verbo e a Morte' Vitorino Nemésio
Biografia:
Vitorino Nemésio Mendes Pinheiro da Silva, nasceu na Ilha Terceira, Açores, a 19 de dezembro de 1901.
Em 1916 fundou a revista literária “Estrela d’Alva”, ano em que publica o seu primeiro livro de poesia, Canto Matinal. Em 1921, em Lisboa, foi redactor dos jornais “A Pátria”, “A Imprensa de Lisboa” e “Última Hora”. Em 1922 concluiu o liceu em Coimbra, ingressou na Faculdade de Direito e no ano seguinte começou a colaborar na revista “Bizâncio” de Coimbra.
Em 1924 abandonou o curso de Direito e matriculou se na Faculdade de Letras, em Ciências Histórico Geográficas. Foi co-fundador da revista “Tríptico”. Em 1925 torna-se redator principal do jornal “Humanidade”, quinzenário de Estudantes de Coimbra. Em 1926 foi co-fundador e diretor do jornal “Gente Nova”, jornal republicano académico. A partir de 1928 passou a colaborar na revista “Seara Nova”.
Em 1930 colaborou na revista “Presença”, com textos poéticos e transferiu-se para a Faculdade de Letras de Lisboa, começando a pesquisa sobre Herculano, estudo que o ocupou até ao fim da vida.
Licenciou se na Faculdade de letras de Lisboa em 1931 e ali lecionou Literatura Italiana e dois anos depois, Literatura Espanhola. Em 1934, doutorou-se em Letras, com “A Mocidade de Herculano até à Volta do Exílio”.
Em 1935 colaborou no jornal “O Diabo” com vários poemas. Em 1937 fundou e dirigiu, em Coimbra, a “Revista de Portugal”. No mesmo ano, partiu para a Bélgica, e leccionou na Universidade Livre de Bruxelas, tendo regressado a Portugal, dois anos mais tarde, para leccionar na faculdade de Letras de Lisboa.
Colaborou nos “Cadernos de Poesia”, na revista “Variante”, na revista “Aventura” e na revista “Litoral”.
Em 1944 foi editada a primeira edição de O Mau Tempo no Canal, que recebeu no ano seguinte o Prémio Ricardo Malheiros da Academia das Ciências.
Em 1946 iniciou a sua colaboração no jornal “Diário Popular” e na revista “Vértice”.
Em 1952 viajou pela primeira vez para o Brasil, que se tornou um destino frequente. De 1956 a 1958 foi director da Faculdade de Letras de Lisboa e a partir de 1958, começou a leccionar no Brasil.
Em 1961 foi feito Grande-Oficial da Ordem do Infante D. Henrique e em 1967, Grande-Oficial da Ordem Militar de Sant’Iago da Espada
Em 1965 foi doutorado honoris causa pela Universidade Paul Valery, de Montpellier, e no mesmo ano recebeu o Prémio Nacional de Literatura, pelo conjunto da sua obra.
Iniciou em 1969 uma colaboração regular na RTP com o programa “Se bem me lembro”. Em 1970 inaugurou as comemorações do centenário da “Geração de 70” no Centro Cultural Português de Paris, da Fundação Calouste Gulbenkian.
Iniciou em 1971 a sua colaboração regular na revista “Observador” e em dezembro desse ano, proferiu a sua “Última Lição” na Faculdade de Letras de Lisboa, onde lecionou durante quase quarenta anos.
Em 1974 recebeu o Prémio Montagine, da Fundação Freiherr von Stein/Friedrich von Schiller, de Hamburgo. No mesmo ano, a Bertrand lançou a primeira coletânea de estudos sobre a obra de Nemésio. Em 1975 Em Dezembro, assumiu a direcção do jornal “O Dia”. Em 1977 foi coordenador nacional do centenário de Herculano.
Vitorino Nemésio tem as suas obras traduzidas em italiano, francês, inglês e alemão, entre outras.
Vitorino Nemésio faleceu, em Lisboa, a 20 de fevereiro 1978, e foi sepultado em Coimbra.
Foi agraciado, em agosto de 1978, a título póstumo a Grã-Cruz da Ordem Militar de Sant’Iago da Espada.
Em 1978, a Câmara Municipal de Lisboa homenageou o escritor dando o seu nome a uma rua na zona da Quinta de Santa Clara. É patrono da Escola Secundária Vitorino Nemésio na Praia da Vitória. Também na Praia da Vitória está a Casa Vitorino Nemésio, espaço museológico.

Principais Obras Publicadas:
Poesia
Canto Matinal, 1916
Nave Etérea, 1922
O Bicho Harmonioso, 1938
Eu, Comovido a Oeste, 1940
Nem Toda a Noite a Vida, 1953
O pão e a Culpa, 1955
O Verbo e a Morte, 1959
Poesia (1935-1940), 1961
O Cavalo Encantado, 1963
Ode ao Rio, ABC do Rio de Janeiro, 1965
Canto de Véspera, 1966
Poemas Brasileiros, 1972
Limite de idade, 1972
Sapateia Açoriana, Andamento Holandês e Outros Poemas, 1976
Caderno de Caligraphia e outros Poemas a Marga, 2003 (póstumo)
Ficção
Paço do Milhafre, 1924
Varanda de Pilatos, 1926
A Casa Fechada, 1937
Mau Tempo no Canal, 1944
O Mistério do Paço do Milhafre, 1949
Quatro prisões debaixo de armas, 1971
Teatro
Amor de nunca mais, 1920
Crónicas e Viagens
O Segredo de Ouro Preto e Outros Caminhos, 1954
Corsário das Ilhas Notas de Viagens às Ilhas dos Açores, 1956
Viagens ao Pé da Porta, 1965
Jornal do Observador, 1973
Era do Átomo Crise do Homem, 1976.
Biografia e Ensaio
Sob os Signos de agora Temas Portugueses e Brasileiros, 1932.
A Mocidade de Herculano até à Volta do Exílio (1810-1832), 1934
Isabel Aragão, Rainha Santa, 1936
Relações Francesas do Romantismo Português, 1936
Vida de Bocage, 1943
Perfil de Adolfo Coelho, 1948.
Destino de Gomes Leal Poesias Escolhidas, 1952.
Vida e Obra do Infante D. Henrique, 1959
Problemas Universitários Luso Brasileiros, 1955
O Retrato do Semeador, 1958
Elogio Histórico de Júlio Dantas, 1965
Quase Que os Vi Viver, 1985.

quinta-feira, 17 de agosto de 2017

António Nobre, o poeta "Só"

Poeta português do século XIX, foi no exílio em Paris que escreveu grande parte da sua obra principal, a única publicada em vida. "Só" é o retrato de António Nobre, um homem assombrado pela morte.
Passa a infância entre Trás-os-Montes e a Póvoa do Varzim e nunca mais volta ser tão feliz como nessas paisagens provincianas que recordará durante toda a vida.
António Nobre (1867-1900) foi um homem singular; combinava elegância com extravagância, o seu aspeto era único e os que o viam chamavam-lhe “a criatura nova”, talvez um sinal do modernismo que já espreitava Portugal nesse final de século.
Em Coimbra participa em revistas como “Boémia Nova”, esta fundada pelo amigo Alberto Oliveira. Porém, com dois chumbos consecutivos no curso de Direito, depressa troca a cidade dos doutores pelo exílio em Paris. Na capital francesa faz Ciências Políticas na Sorbonne e aprende mais sobre a dor humana. Sózinho e sem dinheiro, sente-se desterrado.
Por esta altura nasce o autor do “livro mais triste que há em Portugal”, como o próprio confessa.”Só” é feito de poemas amargos, de uma tristeza que espelha o homem doente que o poeta já desconfiava ser, um homem sem esperança, amargurado, afogado no tédio.
Nos últimos anos de vida faz várias viagens para recuperar a saúde. Por fim regressa à sua “pátria dos Lusíadas” para morrer na cidade onde nascera, no Porto.
Mais tarde, outros livros seus são publicados: “Despedidas” e “Primeiros Versos”. A correspondência do poeta é também reunida em vários volumes.

quarta-feira, 16 de agosto de 2017

Atenção aos problemas geométricos...


16 de agosto de 1900: faleceu Eça de Queirós

A 16 de Agosto de 1900: Morre o escritor e diplomata português José Maria Eça de Queiroz, autor de "Os Maias"


Escritor português, José Maria Eça de Queirós nasceu a 25 de novembro de 1845, na Póvoa de Varzim, filho de um magistrado, também ele escritor, e morreu a 16 de agosto de 1900, em Paris. É considerado um dos maiores romancistas de toda a literatura portuguesa, o primeiro e principal escritor realista português, renovador profundo e perspicaz da nossa prosa literária.
Entrou para o Curso de Direito em 1861, em Coimbra, onde conviveu com muitos dos futuros representantes da Geração de 70, já então aglutinados em torno da figura carismática de Antero de Quental, e onde acedeu às recentes ou redescobertas correntes ideológicas e literárias europeias: o Positivismo, o Socialismo, o Realismo-Naturalismo, sem, contudo, participar ativamente na que seria a primeira polémica dessa geração, a Questão Coimbrã (1865-1866).
Terminado o curso, iniciou a sua experiência jornalística como redator do jornal O Distrito de Évora (1866) e como colaborador na Gazeta de Portugal, onde publicou muitos dos textos - indiciadores de uma nova estilística imaginativa - postumamente reeditados no volume das Prosas Bárbaras. Em 1867 fundou o jornal O Distrito de Évora. No final desse ano, formou-se o "Cenáculo", de que viriam a fazer parte, nesta primeira fase, além de Eça, Jaime Batalha Reis, Ramalho Ortigão, Oliveira Martins e Salomão Saragga, entre outros. Após uma viagem pelo Oriente, para assistir à inauguração do canal de Suez como correspondente do Diário Nacional, regressou a Lisboa, onde participou, com Antero de Quental e Jaime Batalha Reis, na criação do poeta satânico Carlos Fradique Mendes e escreveu, em 1870, em parceria com Ramalho Ortigão, o Mistério da Estrada de Sintra. No ano seguinte, proferiu a conferência "O Realismo como nova expressão da Arte", integrada nas Conferências do Casino Lisbonense e produto da evolução estética que o encaminha no sentido do Realismo-Naturalismo de Flaubert e Zola, com influência das doutrinas de Proudhon e Taine. No mesmo ano, iniciou, novamente com Ramalho, a publicação de As Farpas, crónicas satíricas de inquérito à vida portuguesa. Em 1872, iniciou também a sua carreira diplomática, ao longo da qual ocuparia o cargo de cônsul sucessivamente em Havana (1872), Newcastle (1874), Bristol (1878) e Paris (1888). O afastamento do meio português - aonde só ia muito espaçadamente - não o impediu de colaborar na nossa imprensa, com crónicas e contos, em jornais como A Atualidade, a Gazeta de Notícias, a Revista Moderna, o Diário de Portugal, e de fundar a Revista de Portugal (1889), dando-lhe um critério de observação mais objetivo e crítico da sociedade portuguesa, sobretudo das camadas mais altas. Aliás, foi em Inglaterra que Eça escreveu a parte mais significativa da sua obra, através da qual se revelou um dos mais notáveis artistas da língua portuguesa. Foi, pois, com o distanciamento crítico que a experiência de vida no estrangeiro lhe permitiu que concebeu a maior parte da sua obra romanesca, consagrada à crítica da vida social portuguesa, de onde se destacam O Primo Basílio (1878), O Crime do Padre Amaro (2.ª edição em livro, 1880), A Relíquia (1887) e Os Maias (1888), este último considerado a sua obra-prima. Parte da restante obra foi publicada já depois da sua morte, cuja comemoração do seu centenário teve lugar no ano 2000.
Na obra deste vulto máximo da literatura portuguesa, criador do romance moderno, distinguem-se usualmente três fases estéticas: a primeira, de influência romântica, que engloba os textos posteriormente incluídos nas Prosas Bárbaras e vai até ao Mistério da Estrada de Sintra; a segunda, de afirmação do Realismo, que se inicia com a participação nas Conferências do Casino Lisbonense e se manifesta plenamente nos romances O Primo Basílio e O Crime do Padre Amaro; e a terceira, de superação do Realismo-Naturalismo, espelhada nos romances Os Maias, A Ilustre Casa de Ramires e A Cidade e as Serras.
Bibliografia: Da imensa bibliografia de Eça de Queirós salientam-se O Mistério da Estrada de Sintra, 1870 (romance); O Primo Basílio, 1878 (romance); O Crime do Padre Amaro, 2.ª ed., 1880 (romance); O Mandarim, 1880 (conto); A Relíquia, 1887 (romance); Os Maias, 1888 (romance); Uma Campanha Alegre, 1890-1891 (crónicas); A Correspondência de Fradique Mendes, 1900 (romance, edição póstuma); A Ilustre Casa de Ramires, 1900 (romance, edição póstuma); Prosas Bárbaras, 1903 (crónicas, edição póstuma); Cartas de Inglaterra, 1905 (folhetins, edição póstuma); Ecos de Paris, 1905 (folhetins, edição póstuma); Notas Contemporâneas, 1909 (crónicas, edição póstuma); Últimas Páginas, 1912 (crónicas, edição póstuma); A Capital (romance, edição póstuma)
Eça de Queirós. In Infopédia [Em linha]. Porto: Porto Editora, 2003-2011.

O VALOR DO TRABALHO!

Mário Cordeiro
O conceito de pais-multibanco está a pegar… e o desfasamento entre o conforto em que muitos adolescentes vivem e o valor do trabalho que proporciona todas essas benesses é cada vez maior. Basta só pedir (ou exigir) porque o pai paga!
Há dias, numa consulta, uma jovem de telemóvel ligado, mesmo depois de os pais, timidamente, lhe dizerem para desligar, estando-se ela completamente nas tintas para o que eles diziam, e de eu próprio me ter imposto, aí com um bocadinho mais de sorte, dizia que não entendia porque é que não lhe davam o telemóvel e que precisava dele. “Para quê?”, perguntei. Ela olhou para mim, para os pais, e disse: “Para ao menos estar a ver o que os meus amigos postam no Insta ou ver o que há no Face… Podem estar a passar-se bué de coisas e eu aqui…”
Os pais abriram a boca para, durante largos minutos, desabafarem, dizerem que não conseguiam fazer nada dela (entretanto, já a mãe, para a calar, lhe tinha dado o seu próprio telemóvel) e que estava ligada todo o santo dia à internet.
Perguntei aos pais o que é que aquela adolescente, em férias desde meados de junho, iria fazer até às aulas. “Nada”, foi a resposta. “Está em casa e irá connosco para a aldeia duas semanas, que é o que podemos tirar lá na loja.” A miúda olhou sobranceiramente para os pais e disse: “E já que tenho de aturar esta seca, ao menos podiam comprar-me o novo iPhone! Sinto-me uma nerd, com uma coisa tão cota.”
Resolvi acabar com aquela conversa e disse à miúda que a queria observar, e quando ela estava deitada na marquesa, depois de lhe medir a tensão arterial, deixei-a lá, com o aparelho colocado, e peguei no meu telemóvel e fingi estar a ligar-me à net.
Passado um bocado bem largo em que os pais e ela mantiveram o silêncio, ela reagiu: “Eh! Então? Posso sair daqui?” Fiz um gesto a pedir silêncio e disse: “Não, não podes que ainda não acabou. Mas agora tenho de ver o que os meus amigos colocaram no Face e ainda responder a umas coisas no WhatsApp.”
Consegui manter-me no telemóvel enquanto a via cada vez mais perdida e irritada, até que disse: “E não é a altura da minha consulta? Acha bem estar com o telemóvel na minha consulta? Está a dar cabo dela e a atrasar-me.”
Pousei o telemóvel e disse: “Ora viva quem acordou! Pois a primeira a tentar dar cabo da tua consulta e atrasá-la foste tu porque, que eu saiba, desde que aqui chegaste, não se falou de outra coisa nem tu largaste o telemóvel.” E aproveitei para perguntar, enquanto retomava a consulta: “O que vais fazer nas férias?” Ela olhou para mim com ar triste (não parecia a mesma miúda arrogante e pespineta de há minutos) e exclamou: “Não tenho nada para fazer!” Enfim, perante a passividade total dos pais, verifiquei que, de facto, aquela jovem não tinha mesmo nada para fazer. Não lia um livro, não tinha um trabalho nem se encontrava com os amigos porque viviam em locais distantes, ou seja, apenas lhe restavam os ecrãs como entretenimento e comunicação. Três meses, salvo duas semanas em que, na aldeia, tudo seria provavelmente igual.
Porque não um trabalhinho nas férias? Os jovens de hoje dão por adquirido terem uma série de coisas, desde as férias (merecidas) aos telemóveis, iPads, acesso à internet e tudo o mais. Vivem (e ainda bem), salvo raras exceções, com níveis superiores de conforto, disponibilidade de bens alimentares, consumo e lazer. Frequentam a escola e os pais ainda lhes proporcionam atividades lúdicas, que muitos tratam como um frete, apesar de terem sido eles a dizer que as desejavam.
Como o futuro reside longe, e ainda por cima lhes é dito ser tão imprevisível, muitos, mas mesmo muitos, nem se dão ao trabalho de pensar nele, acreditando que “choverá” por certo um emprego ou qualquer coisita, ou que os papás continuarão a alimentá-los até aos confins dos tempos, pagando-lhes de bom grado as contas dos telemóveis, as roupas de marca que exigem e tudo o mais.
Pois bem… estou em crer que o que está a acontecer é o descrédito do valor do trabalho. O trabalho como dignificação da pessoa, fonte de rendimento, possibilidade de adquirir bens de consumo e de conforto (são os pais que trabalham, claro, para os adolescentes usufruírem das coisas…) ou realização social de uma pessoa integrada na comunidade.
Acabadas as aulas e os exames, e com o bom tempo e os dias prolongados, felizmente, muitos adolescentes começam a pensar em fazer algum tipo de trabalho para ganharem “uns trocos” ou para, simplesmente (e muito positivamente), ajudarem os pais e outras pessoas.
Aprovo totalmente que os jovens, no seu horário de lazer, façam recados e tarefas pelas quais podem até ser remunerados. Fazer jardinagem, distribuir jornais, passear cães, lavar o carro, ajudar a limpar a casa, colaborar com as juntas de freguesia no apoio aos idosos acamados, ajudar em associações de proteção animal, a dar comida ou fazer companhia, apanhar fruta das árvores, fazer babysitting… tanta coisa pode ser feita! Os restantes exemplos ficam ao vosso critério e imaginação – as escolas e as autarquias deveriam ter programas que facilitassem este “dar valor ao trabalho”.
Por outro lado, para muitas famílias, o auxílio que os adolescentes podem dar é importante; sendo parte do agregado, não deverão estar ausentes desse processo: quem come e vive na casa dos pais tem de contribuir para a “causa familiar”, mesmo que isso implique tirar o rabinho do sofá e os olhos do telemóvel, do tablet ou da televisão.
Isto não é trabalho juvenil! É aprendizagem social e até profissional, e reverterá a favor desses adolescentes, mais tarde, no seu percurso de vida.
Andamos a tratar os adolescentes de uma forma esquizoide: ora os colocamos horas e horas em escolas onde são sujeitos a um ensino maçador, repetitivo, em que muito se espreme e tão pouco sai, em que não há ligação entre as disciplinas e, pior, entre estas e a vida real e os percursos de vida futuros; ora lhes damos todas as mordomias, sendo por vezes capachos deles e não instituindo o valor do trabalho como um dos valores essenciais da humanidade. A adolescente que mencionei no início deste texto não fazia a menor ideia de que o que tinha era fruto do trabalho dos pais e achava “indecente” eles só tirarem duas semanas de férias, mas não se interrogava sobre as razões para tal ou se poderia ajudá-los na loja. O conceito de pais-multibanco está a pegar…
Chegadas as férias, e além do descanso, gozo, reposição do sono, saídas e conversa com amigos, desporto, leitura (tão pouca, infelizmente…), praia, TV, redes sociais e tanta outra coisa, considero fundamental haver “uns minutos” para pequenos trabalhos que não deslustram ninguém e até podem mostrar aos jovens que o conforto e a facilidade em que vivem são circunstanciais, efémeros, e que sem o valor do trabalho se arriscam a perder tudo e a não chegar a parte alguma.
Mário Cordeiro, Pediatra
Jornal i, 11 de agosto 2017

NET SEGURA: Tiras BD SeguraNet nº1


terça-feira, 15 de agosto de 2017

Feriado 15 de agosto: Dia de Nossa Senhora da Assunção

A Assunção de Nossa Senhora ao céu é celebrada anualmente a 15 de agosto.
Os cristãos acreditam que aquando da morte de Virgem Maria, esta foi transportada em corpo e alma até aos céus.
Assim, a festa da assunção para o céu da Virgem Maria é celebrada como a "Solenidade da Assunção da Bem-aventurada Virgem Maria" pelos católicos.
Em Portugal, no dia 15 de agosto celebram-se romarias e festas religiosas em várias localidades. Esta é uma festa maior na Igreja. A missa deste dia faz uma referência especial à mãe de todos os cristãos, desde a homilia às orações próprias dedicadas à Santa.

segunda-feira, 14 de agosto de 2017

14 de agosto...1395: Batalha de Aljubarrota

14 de Agosto de 1385: Batalha de Aljubarrota, sob o comando de D. João I e Nuno Álvares Pereira. As forças portuguesas vencem D. João I de Castela.
Esta batalha travou-se no dia 14 de agosto de 1385, entre portugueses e castelhanos, e está inserida no conjunto de confrontos entre os dois exércitos, motivados pela luta da sucessão ao trono português. Em 1383 morrera o rei D. Fernando, que tinha uma única filha, D. Beatriz, mas esta estava casada com o rei D. João I de Castela, o que punha em causa a independência de Portugal. No acordo nupcial determinava-se que D. João I de Castela não poderia ser rei de Portugal, mas os portugueses receavam o pior, até porque, sob o pretexto de fazer valer os direitos de D. Beatriz, aquele logo invadiu Portugal. Ao mesmo tempo, em Portugal formam-se dois partidos: um a favor de D. Beatriz, outro contra.Com a morte do conde Andeiro, o Mestre de Avis é nomeado "regedor e defensor do Reino" e trata de organizar a defesa, ajudado por Nuno Álvares Pereira, entretanto nomeado Condestável do reino. Dá-se o cerco a Lisboa, que, após vários meses, é levantado em setembro de 1384. D. João I de Castela reorganizou as suas tropas, até que, em junho de 1385, sitia Elvas e, aproveitando apoios de praças portuguesas, invade o nosso país pela Beira Alta, entrando por Almeida, segue por Pinhel, Trancoso, Celorico da Beira, Mortágua, Mealhada e acampa perto de Coimbra, nos inícios de agosto. Entretanto também o exército português se preparava. Nuno Álvares Pereira foi conquistando algumas praças até aí favoráveis a Castela e dirigiu-se para Abrantes, onde vai reorganizar as forças vindas de vários lados.Em fins de julho está reunido o exército português em Abrantes, incluindo o Mestre de Avis. Discute-se a tática de guerra, havendo divergências, mas Nuno Álvares Pereira resolve avançar contra o inimigo e segue para Tomar, e daqui para Atouguia (Ourém) e Porto de Mós, junto da estrada de Leiria a Alcobaça, onde chegam a 12 de agosto. Por sua vez, os castelhanos, que seguiam pela mesma estrada, devem ter chegado perto de Leiria também por essa altura. No dia 13, o Condestável inspecionou o terreno onde iria intercetar o exército castelhano, que ficava a sul da ribeira da Calvaria, com dois ribeiros que protegiam os flancos. Era um planalto com acessos difíceis e que limitavam a frente de ataque do inimigo e facilitavam o contra-ataque dos portugueses pelos flancos.Apesar de não haver dados concretos e de terem chegado até nós versões muito díspares sobre o seu número, sabemos que o efetivo dos dois exércitos era muito desigual, havendo muito mais castelhanos que portugueses. Do lado de Castela haveria cerca de 5000 lanças (cavalaria pesada), 2000 ginetes (cavalaria ligeira), 8000 besteiros e l5 000 peões; do lado português seriam cerca de 1700 lanças, 800 besteiros, 300 archeiros ingleses e 4000 peões.
No dia 14 de agosto, os castelhanos, apesar de em maior número, quando avistam o exército português, apercebem-se da posição vantajosa dos portugueses no terreno e tentam evitar o confronto, contornando-os e, seguindo por um caminho secundário, indo concentrar-se em Calvaria. O exército português inverte a posição e desloca-se paralelamente, acompanhando os castelhanos, vindo a ocupar uma posição 3 km a sul da anterior, ficando os dois exércitos a cerca de 350 m de distância. Para proteger a frente os portugueses cavaram rapidamente fossos e covas de lobo, que tentaram disfarçar. O exército português estava disposto numa espécie de quadrado, formando a vanguarda e as alas um só corpo. A vanguarda era comandada pelo Condestável e nela estavam cerca de 600 lanças; na retaguarda, comandada por D. João I, estavam cerca de 700 lanças, besteiros e 2000 peões. Os restantes efetivos estavam nas alas, sendo uma delas conhecida por Ala dos Namorados. A vanguarda castelhana teria 50 bombardas e 1500 lanças, em 4 filas, e ocupava toda a largura do planalto, nas alas teria outras tantas lanças, besteiros e peões, além de ginetes na ala direita e cavaleiros franceses na ala esquerda. Os castelhanos reconhecem a dificuldade de atacar a posição portuguesa, surgindo dúvidas quanto à decisão de atacar ou não.Estavam neste impasse quando, já ao fim do dia, a vanguarda castelhana inicia o ataque. Dados os obstáculos que encontraram, foram-se concentrando ao meio, mas com uma profundidade de 60 a 70 metros, pelo que o embate se dá com a parte central da vanguarda portuguesa. Dado o seu número, os castelhanos conseguem romper a vanguarda portuguesa, mas logo foram atacados de flanco, pelas pontas da vanguarda, pelas alas e também pela retaguarda portuguesa. Assim, face à estratégia e posição portuguesas, a vanguarda castelhana sofreu todo o impacto da força do exército português, sendo desbaratada. Por isso, apesar do maior número total das forças espanholas no combate, a vanguarda castelhana suportou sozinha toda a ação do exército português, sendo esmagada. Os restantes fugiram, em pânico, sendo ainda perseguidos. Tudo isto aconteceu em cerca de uma hora. O rei de Castela fugiu, de noite, para Santarém e daí embarcou para Sevilha.A Batalha de Aljubarrota foi um momento alto e importante na luta com Castela, pois desmoralizou o inimigo e aqueles que o apoiavam, e praticamente assegurou a continuidade da independência nacional.
Batalha de Aljubarrota. In Infopédia [Em linha]. Porto: Porto Editora, 2003-2012.
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sábado, 12 de agosto de 2017

12 de Agosto de 1907: Nasce o escritor português Miguel Torga

12 de Agosto de 1907: Nasce o escritor português Miguel Torga, pseudónimo do médico Adolfo Rocha, autor de "Contos da Montanha" e "A Criação do Mundo".
Pseudónimo de Adolfo Coelho da Rocha e autor de uma produção literária vasta e variada, nasceu em S. Martinho de Anta, Vila Real, a 12 de agosto de 1907, e morreu em Coimbra, a 17 de janeiro de 1995.
Depois de ter trabalhado no Brasil, entre os 13 e os 18 anos (experiência que viria ser evocada na série de romances de inspiração autobiográfica Criação do Mundo), Adolfo Correia da Rocha regressou a Portugal, vindo a licenciar-se em Medicina. Durante os estudos universitários, em Coimbra, travou conhecimento com o grupo de escritores que viriam a fundar a Presença, chegando a publicar nas edições da revista o seu segundo volume de poesia, Rampa. Em 1930, depois de assinar, com Edmundo de Bettencourt e Branquinho da Fonseca, uma carta de dissensão enviada à direção da publicação coimbrã, co-funda as efémeras revistas Sinal e Manifesto. Não obstante a passagem pelo grupo presencista, no momento da suas primícias literárias, Miguel Torga assumirá, ao longo dos cerca de cinquenta títulos que publicou - frequentemente em edições de autor e à margem de políticas editoriais - uma postura de independência relativamente a qualquer movimento literário. Os seus textos poéticos, numa primeira fase, abordaram temas bucólicos, a angústia da morte, a revolta, temas sociais como a justiça e a liberdade, o amor, e deixaram transparecer uma aliança íntima e permanente entre o homem e a terra.
Na poesia, depois de algumas coletâneas ainda imbuídas de certo dramatismo retórico editadas no início dos anos trinta, a publicação dos volumes onde ostenta já o pseudónimo Miguel Torga - segundo Pilar Vásquez Cuesta (cf. Revista de Ocidente, agosto de 1968), esta invenção pseudonímica simboliza, pela analogia com a urze, a obrigação de constância, firmeza e beleza que o artista deve manter, por mais adversas que sejam as estruturas pessoais e históricas em que se move, ao mesmo tempo que "a escolha do nome Miguel responde ao propósito de acrescentar um novo elo lusitano a toda uma cadeia espanhola (Miguel de Molinos, Miguel de Cervantes, Miguel de Unamuno) de pensamento combativo e rebelde" - como Lamentação (1934), O Outro Livro de Job (1936), Libertação (1944), Odes (1946), Nihil Sibi (1948), Cântico do Homem (1950), Penas do Purgatório (1954), Orfeu Rebelde (1958), Câmara Ardente (1962) ou Poemas Ibéricos (1965), firmam uma poesia que é "fundamentalmente a busca da fidelidade no Terrestre, a busca da aliança sem mácula do homem com o Terrestre; a busca da inteireza do homem no Terrestre" (ANDERSEN, Sophia de Mello Breyner, cit. in Boletim Cultural do Serviço de Bibliotecas Itinerantes e Fixas da Fundação Calouste Gulbenkian, n.º 10, dedicado a Miguel Torga, maio de 1988, p. 72). Ancorada no húmus natal, essa poesia dá também conta de uma "ambição de absoluto" que, para Torga, deve "permanecer como simples acicate, pura aspiração, porque o homem tem de realizar-se no relativo, a sua felicidade possível está no relativo, logo na contradição, na luta, numa esperança desesperada", não renegando "essa condição dramática de homem, besta e espírito, egoísmo e entrega generosa" (COELHO, Jacinto do Prado, cit. ibi., p. 72). Na prosa, obras como Bichos, Contos da Montanha e Novos Contos da Montanha marcaram, até aos nossos dias, sucessivas gerações de leitores que aí se deslumbraram com uma fusão entre o homem, o mundo animal e o mundo natural, vazada numa prosa "a um tempo sortílega e enxuta, despegada do efémero, agarrada ao concreto" (cf. MOURÃO-FERREIRA, David - "Miguel Torga e a Respiração do Mundo, ibi., p. 8).
No domínio narrativo, a sua bibliografia contém ainda os seis volumes da ficção de inspiração autobiográfica Criação do Mundo e os dezasseis volumes do Diário, onde compaginam textos de vários géneros, desde os poemas e da reflexão cultural e ideológica, ao testemunho subjetivo de acontecimentos históricos, a notas tomadas nas inúmeras digressões pelo país. A sua bibliografia conta ainda com algumas páginas de intervenção cívica ou de ensaísmo como Fogo Preso ou Traço de União, bem como quatro títulos de teatro. Prevalecendo em qualquer dos géneros que cultivou "uma obsessão metafísica da liberdade" (a expressão é de Jesús Herrero, em Miguel Torga, Poeta Ibérico (cit. Ibi., p. 73), atestada biograficamente, durante a longa ditadura salazarista, por uma rebeldia que lhe valeu a apreensão e interdição de várias obras, bem como a proibição de saída do país e o levantamento de obstáculos ao exercício da sua atividade profissional, para David Mourão-Ferreira (Saudação a Miguel Torga, cit. ibi, p. 75), "O que há [...] de absolutamente invulgar, porventura único, no caso de Miguel Torga é a circunstância de ele ser, cumulativamente, quer como poeta, quer como prosador, um indivíduo inconfundível, um telúrico padrão e um cívico expoente da própria Pátria, um artístico paradigma da língua em que se exprime, um predestinado legatário de valores culturais em permanente abalo sísmico, um atento recetor e um sensível transmissor dos inúmeros problemas - quantos deles talvez indissolúveis - do Homem de todos os quadrantes, ora considerado na moldura dos condicionalismos que o cerceiam, ora ainda mais frequentemente entendido sb specie aeternitatis". É nesta medida que Fernão de Magalhães Gonçalves (Ser e Ler Torga, cit. ibi., p. 76) considera o modo como a obra de Miguel Torga "é progressivamente estruturada por três discursos ou níveis de sentido que evoluem através de fenómenos de divergência e de convergência numa suscitação dialética que põe a nu o movimento das elementares componentes dramáticas da natureza humana: o apelo da transcendência (discurso teológico), o fascínio telúrico (discurso cósmico) e o imperativo da liberdade (discurso sociológico)". Naquele que ainda é um dos mais profundos estudos sobre Miguel Torga, Eduardo Lourenço refere-se, percorrendo os vários níveis da sua matéria poética (incidindo particularmente na relação com o presencismo, na problemática religiosa e no sentimento telúrico que a percorre), a um "desespero humanista" que, partindo da "espécie de indecisão e luta que nela se trava entre um conteúdo que devia fazer explodir a forma e todavia se consegue moldar nela", "É humanista por ser filho da intenção mil vezes expressa na obra de Miguel Torga de confinar a realidade humana unicamente no Homem e na sua aventura cósmica, embora a presença mesma desse desespero testemunhe que essa intenção não encontra no espírito total do poeta uma estrada luminosa e larga. Como a todos os lugares reais ou ideais em que o homem busca a salvação, conduz a este humanismo [...] a porta estreita de uma agonia pessoal" (LOURENÇO, Eduardo - "O Desespero Humanista em Miguel Torga", in Tempo e Poesia, Porto, editorial Inova, 1974, p. 123). Proposto por duas vezes para Nobel da Literatura (1960 e 1978), a sua obra e a sua personalidade constituíram um referente cultural a nível nacional e internacional, tendo recebido, em vida, os Prémios Montaigne (1981), Camões (1989), Vida Literária (da Associação Portuguesa de Escritores, em 1992), o Prémio de Literatura Écureuil (do Salão do Livro de Bordéus, em 1991) e o Prémio da Associação Internacional de Críticos Literários, em 1994.
Miguel Torga. In Infopédia [Em linha]. Porto: Porto Editora, 2003-2012.
wikipedia (Imagem)



Aos Poetas

Somos nós
As humanas cigarras.
Nós,
Desde o tempo de Esopo conhecidos...
Nós,
Preguiçosos insectos perseguidos.

Somos nós os ridículos comparsas
Da fábula burguesa da formiga.
Nós, a tribo faminta de ciganos
Que se abriga
Ao luar.
Nós, que nunca passamos,
A passar...

Somos nós, e só nós podemos ter
Asas sonoras.
Asas que em certas horas
Palpitam.
Asas que morrem, mas que ressuscitam
Da sepultura.
E que da planura
Da seara
Erguem a um campo de maior altura
A mão que só altura semeara.

Por isso a vós, Poetas, eu levanto
A taça fraternal deste meu canto,
E bebo em vossa honra o doce vinho
Da amizade e da paz.
Vinho que não é meu,
Mas sim do mosto que a beleza traz.

E vos digo e conjuro que canteis.
Que sejais menestréis
Duma gesta de amor universal.

Duma epopeia que não tenha reis,
Mas homens de tamanho natural.


Homens de toda a terra sem fronteiras.
De todos os feitios e maneiras,
Da cor que o sol lhes deu à flor da pele.
Crias de Adão e Eva verdadeiras.
Homens da torre de Babel.


Homens do dia-a-dia
Que levantem paredes de ilusão.
Homens de pés no chão,
Que se calcem de sonho e de poesia
Pela graça infantil da vossa mão.


Miguel Torga, in 'Odes'