quinta-feira, 7 de junho de 2018

Como se trabalha a utopia? (Um relato didático bastante informativo...)

Não devemos tentar ser puramente racionais porque não o somos. Toda a moralidade racional é baseada em sentimentos e, para além disso, todo e qualquer propósito é, em última instância, em torno de um sentimento em si, o objetivo último.

Um dia o céu acordou cinzento, o sol mal conseguia espreitar por entre todas as camadas de nuvens que se sobrepunham. Mas isso também não interessa, se fosse um dia lindo também mal teria reparado no estado do tempo ou seja lá o que for que S. Pedro anda a determinar.
Isto porque acordei num estado ascético e demasiado introspetivo provavelmente. Eram tantas os pensamentos, tanto era o festival que a panóplia de cores e furiosas ondas do mar, ao embateram umas nas outras, criavam. Tanta era a revolta, tanta era a felicidade e a tristeza, tanta era a preocupação que jamais sei o que sentir. Ia ter um teste, uma apresentação e um concerto nesse dia, que começava já na paragem de autocarro, um quarto depois das sete da manhã. Pensava na minha amiga que se zangara por um motivo que ainda não conseguira descortinar, fazia os cálculos para conseguir poupar dez euros, no final da semana, para poder ir sair sexta. Por sinal, o que é que ia vestir? Chega o autocarro e retiro os sentimentos que ia apresentar à tarde. Começo a estudá-los e tudo me parece confuso, mesmo tendo sido eu a escrevê-los. Tento recordar-me de todo o raciocínio e de todo o panorama que consegui criar à volta dos ensinamentos do grande filósofo William James, pena que ele seja agnóstico, alguma ajuda divina poderia dar uma bela ajudinha.
Bem, chega de autocomiseração depressiva e aventuras introspetivas, ou seja lá o que eu tenha escrito. A verdade é que eu, apesar do estado de confusão em que a minha cabeça se encontra a duas semanas do ano letivo terminar, estou bastante calmo. Estou assim, porque faz parte da minha natureza e porque faz parte da minha atitude própria, a atitude que acho ser certa. Para quê pensar num mundo intrinsecamente complexo, o qual é impossível dominar sem uma boa dose de stress? Não, por favor, não...a sério… Vou contar-vos como o meu dia, de verdade, começou. Começou vazio. Primeiro, deixa-me acordar direitinho, espera um pouco sol. A primeira coisa que faço é abrir a janela e ir à varanda respirar o ar frio da manhã. É um gesto que me me aufere bastante satisfação. Saio e faço o que é habitual antes de sair de casa. As coisas básicas somente, não me vou predispor a misturar tudo.
Apenas quando chego à paragem de autocarro, é que deixo os sentimentos e as emoções começarem a entrar, com calma, pouco a pouco, vejo que, para muitas das situações, o melhor é nem me preocupar, não há grande coisa que possa fazer por elas. Revejo outra vez a minha apresentação, explico uma dúvida a uma colega e não faço mais nada, rigorosamente nada. Sento-me no autocarro e disfruto da música. Muitos dos leitores poderão não gostar muito dela, é uma das encenação de Sérgio Godinho a um poema Camoniano, que uma professora teve a delicadeza de me mostrar. Eu adorei-a de verdade, está no meu “The Best” do Spotify. O poema é absolutamente fenomenal, o nosso amigo Lusitano tinha, um tato e uma habilidade de ser diferente e de recriar o que via e imaginava, inimagináveis. Camões. Oh! Camões! Todos podemos aprender tanto contigo. És um típico exemplo daquele provérbio, “Olha para o que eu digo, não olhes para o que eu faço”, visto que apesar da tua postura quase inerentemente desgostosa e depressiva, tudo o resto é um mar perfeito que tem a capacidade de deitar por terra a confiança da mais moral das pessoas.
Bem, continuando…Eu continuo a deixar a palete de cores entrar pelos meus ouvidos, um tributo à diversidade e espetacularidade do mundo vário. Penso em tudo mais uma vez, caso não me tenha esquecido de fazer uma certa escolha, penso nos meus objetivos e tento racionalizar tudo. Ser o mais racional possível, a mais cortante das razões, mas já sei que isso não resulta
Como dizia Émil Durkheim “Nós somos Homo Duplex”, ou seja, temos duas partes uma racional e uma outra mais emocional. Penso que devo bloquear as emoções, bloquear tudo e tentar aproximar-me o mais possível de uma abordagem matemática sem margem para erro excepto por ter tudo para estar errado? A minha resposta é não porque o que nos caracteriza enquanto humanos não é somente a habilidade de sermos racionais, mas também a capacidade de sentirmos e de sermos abstratos, por muito racional que seja a transmissão da emoção ao longo do cérebro. Do mesmo modo que não é apenas por sermos emocionais e sentirmos psicologicamente tudo quanto assimilamos, que deixamos a nossa mente uma confusão, mas também pela parte racional.
Não devemos tentar ser puramente racionais porque não o somos. Toda a moralidade racional é baseada em sentimentos e, para além disso, todo e qualquer propósito é, em última instância, em torno de um sentimento em si, o objetivo último.
André Ribeiro
Nº 2 – 10ºA
Professora de Português – Elisabete Moreira

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