terça-feira, 25 de abril de 2017

25 de abril 1974 - 2017

Como foi o meu dia 25 de Abril de 1974
Professora EsterVarzim
Nesse dia, que jamais esquecerei, estava no Liceu Carolina Michaelis no Porto. A meio da manhã, foi dada ordem de saída de todas as alunas do liceu, com a recomendação de que nos dirigíssemos às nossas casas por poder haver alterações na ordem pública causadas por um golpe de estado. Foi o que fizemos, um pouco alarmadas, e o liceu fechou, suponho que um dia ou dois. Em minha casa ouvia-se o rádio e via-se a televisão todo o dia, com grande emoção, com um misto de medo e de alegria tentando abarcar o infinito das possibilidades. Sei que quando voltamos para o liceu, a primeira pessoa que vi no topo da escadaria, com a sua bata branca, saudando as alunas, foi a minha antiga Professora de Ciências, Dr.ª Emília Medina, que tinha deixado o liceu há uns anos. Vim a saber que era uma resistente anti-fascista. Essa imagem dela no cimo da escadaria com a bata branca ficou na minha memória gravada como o símbolo da mudança e da liberdade. Também uma colega mais velha, que sabíamos que tinha sido expulsa do liceu, julgávamos que por comportamentos indecorosos, voltou a ser vista à porta do liceu agora distribuindo panfletos. Lembro-me da sua voz e do seu sorriso como se fosse hoje. Afinal o seu indecoro, tinha sido pertencer à UEC - União dos Estudantes Comunistas e ter estado clandestina. Chama-se Maria Teresa Guimarães Medina, hoje investigadora da Faculdade de Psicologia e Ciências da Educação da Universidade do Porto. Para mim, com quase 16 anos, esse dia foi o desabrochar das sementes que esperavam o sol da primavera. Foi o dia da esperança, da alegria. Nessa altura ainda não sabia bem o que é a liberdade. Por isso continuo a afirmar com uma emoção profunda que rompe todo o meu ser - “ 25 de Abril sempre! Fascismo nunca mais!”.
Porto, 25 de Abril de 2017       
Maria Ester Dionísio Varzim de Miranda, Professora de Educação Especial

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