quarta-feira, 30 de setembro de 2020

Morreu o cartoonista Quino, o pai da rebelde, feminista e inconformada Mafalda

Quino, nome por que era conhecido na família e que depois adoptou enquanto autor de BD, era filho de imigrantes espanhóis da Andaluzia. A Mafalda é apenas uma das personagens – mas indubitavelmente a mais conhecida – a que deu vida ao longo da sua carreira.

Autor de BD, historiador gráfico e ensaísta, Quino conheceu o mundo do desenho ainda criança, por via da relação com um tio desenhador gráfico, que entretinha os seus três sobrinhos com essa sua arte.

Foi do traço de Quino que, entre outras personagens, nasceu Mafalda. As linhas davam forma ao cabelo e à fisionomia icónica daquela criança de seis anos que, desde a sua conceção, servia como palco para a defesa pela igualdade de direitos para as mulheres — mas também para as críticas sociais, polícias e económicas que o ilustrador achava imprescindíveis serem feitas ao seu país, a Argentina.

Mafalda era a rapariga feminista, irreverente, respondona e sempre pronta a desafiava as convenções do seu tempo. Ao fazê-lo, trazia para junto dos leitores uma discussão que tem anos, mas que em 2020 ainda está a ser tida em vários cantos do mundo. Num dos seus desenhos mais icónicos, Joaquín Salvador Lavado Tejón, assim era o nome completo de Quino, mostra Mafalda deitada na praia, para espanto da mãe, rodeada de pequenos montinhos de areia sorridentes.

Quando esta, surpreendida pelo comportamento da filha, a questiona, a resposta surge como Mafalda já nos tinha vindo a habituar: "Não é nada demais, queria apenas saber como era sentir-me uma rapariga sexy."


Além da causa feminista, por que Quino referiu por diversas vezes sentir afinidade, o ilustrador argentino estava também sempre atento à atualidade. E porque a ficção tem este poder, através da análise de novos fenómenos sociais, políticos e tecnológicos, prever cenários futuros passíveis de se concretizar, não é de estranhar que uma das mais recentes ilustrações do desenhador tenha posto Mafalda junto a um planeta Terra doente e fragilizado. Em pleno surto provocado pela doença da COVID-19, nunca olhar para trás pareceu tão importante. 




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