segunda-feira, 3 de janeiro de 2022

‘a fava’ - Vasco Graça Moura

‘a fava’

espero que me calhe aquela fava

que é costume meter no bolo-rei:

quer dizer que o comi, que o partilhei

no natal com quem mais o partilhava

numa ordem das coisas cuja lei

de afectos e memória em nós se grava

nalgum lugar da alma e que destrava

tanta coisa sumida que, bem sei,

pela sua presença cristaliza

saudade e alegria em sons e brilhos,

sabores, cores, luzes, estribilhos...

e até por quem nos falta então se irisa

na mais pobre semente a intensa dança

de tempo adulto e tempo de criança.

Vasco Graça Moura, in 'O Retrato de Francisca Matroco e Outros Poemas'

foto: lusa

Vasco Graça Moura nasceu no Porto, a 3 de janeiro de 1942 e faleceu a 27 de abril de 2014.

Foi escritor, tradutor e político. Enveredou definitivamente na carreira literária na década de 80, tornando-se um nome central da literatura portuguesa da segunda metade século XX.

Poeta, romancista, ensaísta, tradutor, foi secretário de Estado de dois Governos provisórios, desempenhou funções diretivas na RTP, na Imprensa Nacional e na Comissão para as Comemorações dos Descobrimentos Portugueses. Em 1999, foi eleito deputado ao Parlamento Europeu. Considerado por muitos um dos maiores, se não o maior, poeta português contemporâneo, Vasco Graça Moura é autor de uma vastíssima obra poética, ensaística e ficcional, e um nobilíssimo tradutor e divulgador das literaturas clássicas. Prémio Pessoa (1995), o Prémio de Poesia do Pen Club (1997), o Grande Prémio de Poesia da APE (1997) e o Grande Prémio de Romance e Novela APE/IPLB (2004). Foi galardoado em 2007 com o Prémio Vergílio Ferreira e com o prémio de poesia Max Jacob Étranger.

Com António Mega Ferreira, foi coautor da proposta de realização da Exposição Mundial de 1998 em Lisboa, que veio a ser considerada uma das melhores exposições internacionais de sempre pelo Bureau International des Expositions.

Foi nomeado presidente da Fundação Centro Cultural de Belém em janeiro de 2012, mantendo-se nesse cargo até à sua morte, a 27 de abril de 2014.

Em 2015, a INCM criou o Prémio Imprensa Nacional/Vasco Graça Moura, homenageando assim a figura incontornável de Vasco Graça Moura enquanto cidadão, intelectual e antigo administrador da INCM. O prémio distingue, rotativamente, trabalhos inéditos nas áreas em que  Vasco Graça Moura se destacou, nomeadamente, na Poesia, no Ensaio (no domínio das Humanidades) e na Tradução (obras no domínio público).

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