‘a fava’
espero que me calhe aquela fava
que é costume meter no bolo-rei:
quer dizer que o comi, que o partilhei
no natal com quem mais o partilhava
numa ordem das coisas cuja lei
de afectos e memória em nós se grava
nalgum lugar da alma e que destrava
tanta coisa sumida que, bem sei,
pela sua presença cristaliza
saudade e alegria em sons e brilhos,
sabores, cores, luzes, estribilhos...
e até por quem nos falta então se irisa
na mais pobre semente a intensa dança
de tempo adulto e tempo de criança.
Vasco Graça Moura, in 'O Retrato de Francisca Matroco e Outros Poemas'
foto: lusa
Vasco Graça Moura nasceu no Porto, a 3 de janeiro de 1942 e faleceu a 27 de abril de 2014.
Foi escritor, tradutor e
político. Enveredou definitivamente na carreira literária na década de 80,
tornando-se um nome central da literatura portuguesa da segunda metade século
XX.
Com António Mega Ferreira, foi
coautor da proposta de realização da Exposição Mundial de 1998 em Lisboa, que
veio a ser considerada uma das melhores exposições internacionais de sempre
pelo Bureau International des Expositions.
Foi nomeado presidente da
Fundação Centro Cultural de Belém em janeiro de 2012, mantendo-se nesse cargo
até à sua morte, a 27 de abril de 2014.
Em 2015, a INCM criou o Prémio Imprensa Nacional/Vasco Graça Moura, homenageando assim a figura incontornável de Vasco Graça Moura enquanto cidadão, intelectual e antigo administrador da INCM. O prémio distingue, rotativamente, trabalhos inéditos nas áreas em que Vasco Graça Moura se destacou, nomeadamente, na Poesia, no Ensaio (no domínio das Humanidades) e na Tradução (obras no domínio público).
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