segunda-feira, 8 de maio de 2017

Artigo de opinião: Reescrever a Europa

Bandeira da U.E.
Nos vários países que integram a comunidade europeia encontramos políticos que manifestam, de forma perentória, a sua oposição à NATO, à U.E. e à moeda única. Estes políticos, que militam tanto nos partidos da extrema direita, como nos partidos da extrema esquerda, tudo farão para que os seus países abandonem a União Europeia. Nem que para isso venham a utilizar métodos, no mínimo, pouco democráticos, tais como o recurso à propaganda e à intriga política, assim como o apelo à sensibilidade, coragem e ousadia que os jovens investem quando se trata de defender causas sociais. A manipulação que os partidos populistas fazem em época de eleições foi observada quando os ingleses foram chamados a manifestar a sua opinião num referendo sobre a questão da sua permanência na União Europeia. Deve reconhecer-se que o anúncio do brexit parece ter sido fácil, não existindo da parte da União Europeia quaisquer intenções em penalizar o povo inglês. A meu ver, esta aparente facilidade em libertar o Reino Unido dos compromissos que assumiu deve-se, por um lado, ao facto de este ser um país rico, com uma economia sólida, cujo mercado não deve ser ignorado pela Europa; por outro, convém relembrar que os ingleses não aderiram à moeda única, privilégio, esse, que facilita agora a sua saída. No entanto, eles saem e a mágoa fica! Os ingleses não foram leais na plena aceção da palavra para com os restantes membros da comunidade europeia. A sua saída da U.E. acontece num momento não muito propício, se tivermos em consideração os inúmeros problemas que esta tem por resolver e que a fragilizam a cada dia. Neste momento tão difícil para a Europa, a união entre os estados membros da U.E. deve ser urgentemente reforçada. Só uma Europa unida e com uma só voz poderá recuperar a credibilidade perdida. Que medidas devem, então, ser tomadas?
Em primeiro lugar, é imperativo definir metas que possam ser implementadas de forma decidida e sem medo; de seguida, é importante reequacionar uma nova Europa, humanista e com valores. Afinal, é notória a falta de uma liderança credível e a ausência de um projeto sério, dada a impossibilidade em chegar-se a um consenso. Existem, portanto, questões que são adiadas sistematicamente quando deveriam ser solucionadas de imediato, uma vez que a sua resolução fica em suspenso até à próxima Cimeira Europeia ou reunião do Conselho Europeu. A este ambiente de crise por parte da União Europeia deve acrescentar-se, ainda, uma agenda com situações graves por resolver: o terrorismo, a emigração e os refugiados.
É com tristeza que observo que a Europa perdeu a confiança em si própria e a capacidade de idealizar um projeto tão ambicioso como aquele que foi capaz de nos proporcionar a paz durante 60 anos. Um projeto tão ambicioso como aquele que aproximou países e nações que viviam há anos de costas voltadas e se guerreavam para resolver os seus conflitos. Um projeto tão ambicioso como aquele que permitiu construir uma Europa unida e com carisma.
Que desafios se nos colocam, assim, nos dias de hoje? Lutar por uma Europa segura e independente da América; lutar por uma Europa com uma política monetária forte, capaz de se defender dos especuladores e dos inimigos do euro; lutar por uma Europa solidária, atenta às causas sociais e que esteja sempre disponível para ajudar os países europeus mais desfavorecidos; lutar por uma Europa que resista ao terrorismo e não se deixe dominar pelo medo e insegurança que têm sido veiculados pelos partidos populistas em proveito próprio. Só assim se poderá reabilitar o sonho europeu.
Acredito firmemente numa Europa que aposte na educação e reconheça o saber como critério fundamental para determinar a vantagem social do indivíduo, em detrimento da religião, sexo, raça e poder económico.
Desta forma, uma Europa forte, unida e com a “casa arrumada” saberá ter uma resposta às políticas de Trump e à sua ideia de uma nova ordem mundial; saberá ter uma resposta à China e à sua ânsia de ter mais protagonismo no mundo; saberá ter uma resposta a Putin e aos seus sonhos imperiais que assentam numa política de confronto.
João Couraceiro, n.º 10, 12.ºC

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