segunda-feira, 3 de julho de 2017

"As Férias da minha infância foram tempos mágicos" de Ester Varzim

“As férias da minha infância foram tempos mágicos”
Recordações de infância da Professora Ester Varzim
Para todos os meninos

As férias da minha infância foram tempos mágicos! Perguntar-se-ão alguns – será que não o são todos?!
Nem todos o serão, como posso facilmente fazer uma ideia.
Eram, nesse tempo, chamadas férias grandes e eram mesmo grandes…. Se não tínhamos exames, tinham início nos primeiros dias de Junho e só terminavam nos primeiros dias de Outubro, altura em que começavam, também, as primeiras chuvas.
Havia sempre a época da praia, normalmente ainda em Junho, Julho e depois a época do campo, normalmente em Agosto e Setembro.
Para a praia íamos de eléctrico descendo a Avenida da Boavista. Quando passávamos a zona do Bessa já começávamos a sentir, nas manhãs frescas e com alguma neblina, o cheirinho da maresia. Por vezes, à medida que nos aproximávamos, víamos que estava “nevoeiro ao mar”. As exclamações infantis agouravam a hipótese de chuviscos e a possibilidade de voltarmos para casa. As mães e outros viajantes logo nos tranquilizavam à boa maneira portuense -“oh meu menino, …é quando a praia é melhor!... isto levanta já…! E lá íamos acompanhando a cadência das árvores que ladeavam a linha e perscrutando nos intervalos sem árvores e nas descidas, o tal horizonte de esperança de um dia bem passado.
E o que era um dia bem passado?
Era a maré vasa logo de manhã para podermos tomar mais banho, era podermos encontrar os amiguinhos, que nunca sabíamos se estavam naquele dia ou não, (como o telefone era caro, não podíamos comunicar). Era a mãe dar licença para comermos uma língua da sogra, ou um chupa-chupa, ou mais tarde, um geladito da Rajá ou da Olá que traziam sempre uns bonequinhos que serviam para brincar. Fora isto, jogávamos ao prego, líamos Tios Patinhas, fazíamos bolos e escavações na areia. Às vezes estas eram autênticas obras de engenharia, quando havia um adulto dedicado, normalmente homem, que requisitava a rapaziada como “moços” a acartar baldes de areia molhada ou de água, consoante a estabilidade da estrutura que o olho e um tacto apuradíssimos que a experiência dos engenheiros das areias sabia sempre medir. Por vezes, lá vinha a ameaça da maré a subir e a hipótese de destruição da obra. Então construía-se um forte, mais forte do que o do Queijo, ou uma muralha com um fosso onde caberiam as ondas desfeitas, cheias de espuma do mar. Como nos empolgávamos na defesa dos castelos! Todos éramos D. Quixotes e não havia mar que nos vencesse enquanto estivéssemos por perto. Lá de noite, era outra coisa, o mar vinha e, às escuras e sem nós por perto, alisava tudo. Na manhã seguinte, estudaríamos o terreno e as marcas da maré maior, para colocarmos a salvo a nova construção, esta sim, indestrutível.
As rochas, na maré vasa, eram sempre uma aventura de equilíbrio, de descoberta da cor, de cheiros e de toda a fauna e flora marinha. As pocinhas no meio delas tinham peixinhos quase transparentes que trazíamos em baldinhos para a areia para melhor observar. Havia estrelas, caranguejos, mexilhões e não raras vezes, escorregávamos e lá fazíamos uns cortes na pele que ardiam que se fartavam quando os molhávamos na água salgada do mar. Queixosos, obtínhamos da mãe a resposta da experiência- “o que arde cura!...” e prosseguíamos para o próximo programa, que nunca faltava até à hora de partir até ao dia seguinte.
O eléctrico tinha “bichas” intermináveis de pessoas à espera. A vinda, lembro-me bem, era mesmo um sacrifício. Estávamos muito cansados, com a pele queimada, com os pés cheios de areia que sempre magoava os tais cortes feitos nos mexilhões das rochas. Havia que carregar as tralhas- a mãe não podia sozinha- e subir para o eléctrico sem deixar que outros nos passassem à frente. Como me lembro dos cheiros… – a manteiga de cacau com que nos besuntavam a pele, o cheiro a corpos com sal misturado com os óleos de lubrificação de todos os mecanismos de ferro do eléctrico e a cestas de merendeiros!... A pequenada lá ia, quase esmigalhada, sem ver para lado nenhum, equilibrada no meio dos adultos que se moviam de acordo com os solavancos do veículo. Cá fora vinham “os gunas” rapazinhos e rapazolas sem bilhete. Nos bancos, sentadas, vinham as senhoras de idade mais gordinhas e desajeitadas quanto ao equilíbrio e as mães de crianças de colo e mais tralhas no meio delas, que sempre se dava um jeitinho para aliviar os corredores.
Este texto segue propositadamente a norma anterior ao Acordo Ortográfico.
Porto, 2 de julho de 2017
Ester Varzim

O Jogo do Prego
A pedido de várias famílias, aqui vai uma breve explicação de como se jogava ao prego. O jogo era muito simples, divertido, e sem grande investimento inicial: era apenas preciso um prego comprido, com 15/20 cm. Esse prego tinha uma cabeça e aí estava todo o "busilis" da questão!!

Havia uma série, ou sequência, de 6 formas de atirar o dito prego para a areia: mão aberta, dedos fechados (costas), mão fechada, corninhos, 2 meias voltas e a cambalhota. O prego, depois de atirado à areia, tinha que ficar espetado, e contava como válido, desde que tivesse a cabeça fora da areia, ou seja, desde que não estivesse em contacto com a areia.. o que implicava que não estivesse caído, na horizontal.
Se o jogador não fosse bem sucedido, o prego tivesse caído, passava o "jogo" para o seguinte, e da próxima vez iniciava do 1º exercício a nova série.
Vejam as fotos que eu arranjei aqui na blogosfera, para melhor visualizarem a série....

No inicio do jogo estabeleciam-se quantas séries completas tinham-se que fazer... e o 1º jogador que as completasse, ganhava.
Para os profissionais havia um 2º nível, que consistia em juntar depois das séries estabelecidas, uma certa quantidade de séries "à espanhola", que era nada mais, nada mesmo, que as mesmas sequências, mas pegando no prego ao contrário, pela cabeça, o que implicava uma pirueta no ar antes da aterragem do prego!
http://poveirinha.blogspot.pt/2010/01/o-jogo-do-prego.html

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