quarta-feira, 28 de novembro de 2018

Educação Digital e IA nos Ensinos Básico e Secundário

A escolaridade obrigatória de doze anos configurada no “Perfil dos alunos à saída da escolaridade obrigatória” (PA) remete para a necessidade de desde cedo todos os alunos se constituam como utilizadores competentes e críticos das tecnologias digitais, considerando que estas promovem ambientes educativos potentes e criadores de oportunidades únicas de aprendizagem e de participação na vida ativa.

Plenamente reconhecida a importância da presença das tecnologias de informação e comunicação (TIC) no currículo, enquanto oportunidade para o desenvolvimento de competências digitais conducentes ao exercício de uma cidadania ativa, crítica e responsável, pretende-se que de forma progressiva e ao longo de todo o ensino básico e secundário, os alunos desenvolvam:
  • atitudes críticas, refletidas e responsáveis no uso de tecnologias, ambientes e serviços digitais;
  • competências de pesquisa e de análise de informação online;
  • capacidade de comunicar de forma adequada, utilizando meios e recursos digitais;
  • criatividade, através da exploração de ideias e do desenvolvimento do pensamento computacional com vista à produção de artefactos digitais.

No domínio da Cidadania Digital devem realizar-se as aprendizagens relacionadas com a capacidade de compreender o mundo digital, a capacidade de intervir nele de forma crítica, ativa e formativa, a capacidade de salvaguardar princípios, valores e direitos próprios das crianças e dos jovens, sem qualquer tipo de discriminação. Neste domínio, a segurança pessoal, a salvaguarda de direitos e o respeito pela diversidade devem ser assegurados pelos diferentes intervenientes.

Não basta, deste modo, desenvolver competências digitais, importa ir mais longe em domínios de desenvolvimento das capacidades analíticas dos alunos, através da exploração de ambientes computacionais apropriados às suas idades e proporcionando a abordagem de tecnologias emergentes. Subjaz não uma lógica restrita de conteúdos instrumentais ou de aquisição de conceitos, mas sobretudo o desenvolvimento de competências capazes de preparar os jovens para as exigências do século XXI, em sintonia com o estabelecido no PA, nomeadamente no que respeita aos valores de “Responsabilidade e Integridade, Curiosidade, Reflexão e Inovação e Cidadania e Participação”, entre outros e nas áreas de competências de “Linguagens e textos”, “Informação e comunicação” e “Raciocínio e resolução de problemas”.

A Inteligência Artificial (IA), através de ramos específicos como o da Aprendizagem Automática (Machine Learning) e o da Aprendizagem Profunda (Deep Learning), poderá revelar-se como potenciadora de aprendizagens mais significativas e da promoção de contextos de aprendizagem mais ricos (conjuntamente com a Realidade Virtual e Aumentada). Estes contextos poderão facilitar o desenvolvimento de modelos pedagógicos adaptados às necessidades específicas de cada aluno num mundo que vive atualmente em constante e profunda mudança.

É imperioso dar resposta aos novos desafios que nos são colocados diariamente. Perante a dimensão do impacto e velocidade de disrupção provocada pela revolução digital as instituições educativas devem utilizar e aplicar todas as potencialidades de melhoria dos processos educativos disponibilizados pela a IA e respetivos domínios. Essa aplicação concretiza-se através da apropriação e integração, em contextos educativos, de sistemas, soluções e plataformas digitais que só são possíveis devido à IA. Associa-se a este desenvolvimento a descomunal quantidade de dados disponíveis (vulgarmente designada por Big Data) que é na essência o combustível que alimenta a IA.

As soluções AIED (Artificial Intelligence in Education) poderão, entre outras, apoiar os professores na implementação de processos de aprendizagem individualizada em consonância com os ritmos e estilos de aprendizagens de cada aluno através da disponibilização de experiências de aprendizagem adaptadas (Adaptative Learning). De referir também os Sistemas Inteligentes de Tutoria que identificam situações precoces de dificuldades de aprendizagem dos alunos. Estes sistemas permitirão ao aluno uma aprendizagem significativa de acordo com o seu perfil e estilo oferecendo ao professor o espaço e tempo que este necessita para um acompanhamento eficaz de todos os alunos.

Outras soluções centram-se, por exemplo, no campo do desenvolvimento de suportes para a aprendizagem colaborativa, ou seja, a capacidade inteligente de desenvolvimento de plataformas que promovam verdadeiramente espaços colaborativos. Noutros domínios assistimos ao surgimento de aplicações de cariz educacional para dispositivos móveis que fazem utilização da “Narrow AI”. Por exemplo, através de sistemas de reconhecimento de voz que facilitam a aprendizagem de línguas, outras existem que fazem recurso da designada “machine vision” que pode ajudar na resolução de problemas matemáticos. Outros exemplos mais genéricos expandem-se à capacidade automatizar inúmeros processos de índole mais repetitiva e burocrática, o que permitirá disponibilizar mais tempo efetivo para o trabalho educativo do professor.

Todo este novo paradigma tornado possível devido à IA não terá como objetivo final a substituição do professor - a aprendizagem assenta sobretudo nos princípios das relação sociais que as “máquinas” de momento não conseguem substituir – estará, sim, lado a lado com o professor com o objetivo maior de se proporcionar as melhores e mais eficazes experiências de aprendizagem a todos os nossos alunos.

Maria João Horta
Subdiretora-geral da Direção-Geral da Educação
Secretariado Técnico INCoDe.2030 – Eixo 2 – Educação

Marco Neves
Professor de Informática no Agrupamento de Escolas da Batalha

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