quinta-feira, 22 de novembro de 2018

Poesia: Mário de Cesariny

O volume é grande e pesado. O cuidado gráfico da edição de capa dura e a soturnidade do retrato do poeta podem assustar os leitores mais intermitentes. Todavia, não é para eles este livro que reúne a obra do escritor e pintor que superou o surrealismo e se fez nome a solo. Cesariny é para os jovens que se começam a procurar, que questionam fronteiras e discursos. É para os potenciais leitores que se buscam no verso, mais do que para aqueles que acalentam percebê-lo. A obra é diversa, com recursos tão bucólicos como eróticos, descritivos como interpelativos, equilíbrios rítmicos e rupturas... Há, no entanto, na palavra do poeta um constante sentido subversivo, muito maior do que a provocação moral com que é conotado de forma por demais simplista. Essa subversão faz-se diálogo, combate, e progride, difere sem nunca encontrar sossego ou conforto. A leitura é de fôlego, não por ser preciso ler o livro de fio a pavio, mas porque cada poema pode ser uma revelação e um incómodo em si mesmo. Mas é também um livro que persiste no tempo e acompanha o leitor, que pode relido e redescoberto. Para leitura iniciática pode haver melhor?
Biblioteca Escolar

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