Ensina-nos, Senhor, a rezar este vazio.
O vazio transportado
por um medo que não conhecíamos e que parece agora um inquilino da nossa alma.
O vazio dos espaços em
isolamento.
O vazio da vida que se
faz sentir como suspensa.
O vazio das horas que
quem está na solidão conta de maneira diferente.
O vazio das incertezas
que se acumulam, e das quais ainda não falámos.
O vazio dos olhos
daqueles que veem sofrer e os olhos dos muitos que sofrem sem que nós os
vejamos.
O vazio de tudo aquilo
que, de um instante para o outro, é adiado.
O vazio daquela mulher
idosa que passa o dia inteiro com o rosto contra o vidro da janela.
O vazio do refugiado
que vê a sua esperança negada por um carimbo.
O vazio do jovem
diante de um futuro que escapa cada vez mais, como um pensamento distante.
O vazio que nos chega
como um aviso de despejo da vida autêntica.
O vazio dos encontros
e das conversas de que agora precisaríamos.
O vazio que os amigos
notam.
O vazio dos risos.
O vazio de todos os
abraços não dados.
O vazio da proximidade
proibida.
O vazio no qual não te vemos.
José Tolentino
Mendonça
In: Avvenire (jornal)
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