domingo, 7 de fevereiro de 2021

"Não sei quantos seremos, mas que importa?!

Um só que fosse e já valia a pena.

Aqui, no mundo, alguém que se condena

A não ser conivente

Na farsa do presente

Posta em cena!

Não podemos mudar a hora da chegada,

Nem talvez a mais certa,

A da partida.

Mas podemos fazer a descoberta

Do que presta

E não presta

Nesta vida.

E o que não presta é isto, esta mentira

Quotidiana.

Esta comédia desumana

E triste,

Que cobre de soturna maldição

A própria indignação

Que lhe resiste."

Miguel Torga, Plateia, in 𝘊â𝘮𝘢𝘳𝘢 𝘈𝘳𝘥𝘦𝘯𝘵𝘦, 1962

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