domingo, 6 de novembro de 2022

SOPHIA DE MELLO BREYNER ANDRESEN [06.11.1919 - 02.07.2004]

 


SOPHIA DE MELLO BREYNER ANDRESEN
06/11/2022

Sophia de Mello Breyner Andresen nasceu no Porto, em 6 de novembro de 1919 e morreu em Lisboa, a 2 de julho de 2004. Por muitos considerada uma das maiores poetas portuguesas de sempre (não gostava do termo poetisa), foi das mais justamente reconhecidas em vida, tanto no mundo de Língua Portuguesa como noutras latitudes: 1999 – Prémio Camões (primeira mulher portuguesa a recebê-lo); 2000 – Prémio Rosalía de Castro, do Pen Clube Galego; 2001 – Prémio Max Jacob Étranger; 2003 – Prémio Rainha Sophia de Poesia Ibero-americana foram apenas algumas das muitas distinções públicas que obteve.

De origem aristocrática, da parte da família materna, e oriunda duma abastada família de raízes dinamarquesas pelo lado paterno, seu avô, Jan Andresen, desembarcou um dia no Porto e nunca mais abandonou a região, tendo o seu filho João Henrique adquirido, em 1895, a Quinta do Campo Alegre, que é hoje o Jardim Botânico do Porto.

Nesta casa dos avós paternos viveu Sophia dos períodos mais marcantes da sua meninice. E a natureza maravilhosa que a rodeava, jardins e floresta, além dos extraordinários Natais na grande casa, ficaram para sempre inscritos na obra, em especial nos contos, tanto os que escreveu para adultos (Contos Exemplares, 1962, Histórias da Terra e do Mar, 1984, e outros) como os dirigidos à infância, hoje considerados clássicos da nossa literatura para os mais novos: A Noite de Natal (1959), O Rapaz de Bronze (1966), A Floresta (1968).

Sophia fez no Porto os estudos secundários e ainda chegou a inscrever-se em Filologia Clássica na Universidade de Lisboa, mas cedo abandonou o curso. Casou-se, em 1947, com o jornalista, político e advogado Francisco Sousa Tavares e foi viver para a capital. Do casamento nasceram cinco filhos que inspiraram a criação dos seus contos para crianças, como A Fada Oriana (1958), O Cavaleiro da Dinamarca (1964) ou A Menina do Mar (1958) – este último baseado numa história que a mãe de Sophia lhe contava na infância e inspirado pela paisagem da praia da Granja (concelho de Gaia), onde a família da poeta passava férias de verão, cenário que marcou também de forma indelével a sua poesia e ficção narrativa.

Foi alguém que se opôs com firmeza à ditadura de Salazar e Caetano e fez parte, antes do 25 de Abril, de organizações de resistência, tendo sido um dos fundadores da Comissão Nacional de Socorro aos Presos Políticos. Já depois do 25 de Abril de 1974 (dedicou a este acontecimento histórico o mais belo poema que sobre o seu significado se escreveu), foi deputada à Assembleia Constituinte em 1975-76. Aliás, os valores da liberdade, da justiça e da paz, da inteireza moral, da luta contra a pobreza e pela cultura nortearam sempre a sua vida, acabando patentes na poesia e na restante e riquíssima obra que nos legou – pois, além de narrativas, deixou-nos peças de teatro, traduções de autores clássicos e ensaios, por exemplo sobre arte na Antiguidade Clássica greco-romana, a qual influenciou a sua escrita e o seu modo de ver o mundo, a vida e a História.

O mar e sua dimensão mítica, o esplendor do real e das coisas visíveis, a busca da harmonia e a exigência moral, a justiça, o amor, o humanismo de raiz cristã, a Grécia antiga e os seus mitos, a tensão vida/morte são apenas alguns dos grandes temas da poesia de Sophia, uma escrita de rigor, musicalidade e ritmo únicos e que tem seduzido sucessivas gerações, graças a obras maravilhosas como Livro Sexto (1962), Geografia (1967), O Nome das Coisas (1977), O Búzio de Cós (1997) e muitas outras.

José António Gomes
Escola Superior de Educação do Porto

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