quarta-feira, 20 de dezembro de 2023

O Natal chegará...


No Advento são-nos apresentados vários modelos que representam para nós, na sua exemplaridade, um desafio à transformação, ao rasgar do nosso coração para acolher o Jesus que vem.
Hoje, o modelo apresentado é a figura de João Batista. João Batista vem para sobressaltar. A sua voz é um sobressalto.
Queridos irmãos, para quem está completamente contente, completamente coincidente, completamente realizado com aquilo que tem, com aquilo que vê em seu redor, não haverá Natal. O Natal chegará para os corações que se abrem em insatisfação, em procura, em pergunta, em desejo, em necessidade vital de que Jesus venha para transformar, para salvar a nossa história. Por isso, João Batista é esta sentinela que nos diz: “É preciso fazer penitência.” Isto é: é preciso afastar-se da vida que vivemos, porque às vezes estamos tão colados, tão preocupados com o que está diante dos nossos olhos que perdemos todo o sentido crítico.
Mas João Batista é também uma grande figura da humildade. É aquele que diz: “Eu não sou digno daquele que virá depois de mim.” De fato, se nós nos armamos no nosso narcisismo em centros do mundo – “Eu é que sei, eu é que faço, eu é que posso conseguir” – nunca perceberemos isto que João Batista diz: “Depois de mim vai chegar quem é mais forte do que eu.” Isto é, nunca nos colocamos na brecha, na fratura, na fronteira, nunca somos sentinelas de nada.
Nós somos anunciadores, somos sentinelas, somos servidores, somos visionários, nós documentamos aquele que há de vir e que é mais forte do que eu e do qual não somos dignos de desatar a correia das sandálias.
Queridos irmãos, fujamos do símbolo pelo símbolo, demos carne e osso ao Natal, tornemos o Natal encarnado nas nossas vidas, testemunhando que no centro está a pessoa de Jesus e o que Ele significa na vida de cada um de nós. Aquilo que Job dizia a plenos pulmões e com a carne em fogo: “Eu sei que o meu Redentor está vivo!” É essa palavra que nós temos de dizer: Eu sei que o meu Redentor está vivo! Sem esta palavra não há consolação. Há imaginação, há pieguice, há tradição, há isso tudo mas não há consolação. “Consolai. Consolai o meu povo, diz o Senhor.”
Cardeal D. José Tolentino Mendonça

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