quarta-feira, 10 de abril de 2024

A Inteligência Artificial nas Bibliotecas Escolares: Estratégias inovadoras para apoiar o trabalho dos professores

A incorporação da Inteligência Artificial (IA) no domínio educativo tendo vindo a transformar a maneira como aprendemos, mas também como ensinamos. De facto, a IA pode ser usada como uma ferramenta de apoio para o trabalho dos professores, quer seja na avaliação sumativa escrita, classificação de trabalhos escritos e monitorização de fóruns de alunos, quer seja na utilização de assistentes virtuais de ensino que usam a IA ou ainda na recomendação de recursos pedagógicos, como nos diz a Comissão Europeia (2022)[1].

Este quinto artigo da série "A inteligência artificial (IA) nas bibliotecas escolares" aborda estas questões relativas ao potencial da IA no apoio aos professores, destacando o papel das bibliotecas escolares na integração destas tecnologias para fomentar a inovação na prática letiva.

Personalização do ensino

 A IA tem a capacidade de analisar o desempenho dos alunos em tempo real, fornecendo um diagnóstico automatizado que identifica as fragilidades dos alunos, isto é, os conteúdos em que têm mais dificuldades. Essa análise detalhada permite aos professores personalizar o conteúdo de ensino com base nas necessidades e estilos de aprendizagem de cada aluno, quer ao nível da planificação das aulas, quer da própria avaliação.

Para além disso, os algoritmos de IA podem ser utilizados para desenvolver planos de aula que se ajustam automaticamente ao ritmo de aprendizagem de cada estudante, abordagem que assegura que todos os alunos, independentemente do seu nível, possam progredir na aprendizagem.

Avaliação e feedback personalizado

Relativamente à avaliação, a IA abre caminho para ferramentas de avaliação inteligente que auxiliam na criação e na correção de testes, proporcionando feedback instantâneo e personalizado. Essas ferramentas analisam padrões de desempenho dos alunos e, para além de economizar tempo aos professores, oferecem informação detalhada sobre áreas de melhoria, contribuindo para melhorar continuamente o processo educativo.

Têm surgido inúmeras plataformas que apoiam o trabalho do professor, nestas áreas, como por exemplo:

  • Magic School:  focada na automação de tarefas, esta plataforma utiliza IA para gerar exercícios e atividades interativas personalizadas, criar planos de aula adaptados aos objetivos educativos e resultados de aprendizagem dos alunos, corrigir tarefas automaticamente e fornecer feedback instantâneo;
  • School AI:  é uma plataforma que utiliza IA para personalizar a educação, oferecendo a criação de planos de aula e feedback individualizado;
  • Mizou: ferramenta criada para apoiar os professores na personalização do ensino, através da criação de chatbots adequados às necessidades de cada aluno.

Para além destes recursos, já existem repositórios que organizam ferramentas de IA para educadores. O Canopy Directory, que disponibiliza listas de recursos para avaliação, criação de conteúdos, planificação de aulas e apresentações, é uma dessas plataformas.

As ferramentas de IA podem também ajudar os professores a criar apresentações mais profissionais e eficazes, permitindo:

  • Economia de tempo: estas ferramentas podem automatizar tarefas repetitivas, como a criação de slides e a formatação de texto;
  • Criação de apresentações mais envolventes: as ferramentas de IA podem ser utilizadas para criar apresentações mais interativas e visuais, o que pode ajudar a motivar os alunos.

 A título de exemplo, deixamos dois exemplos de ferramentas para a criação de apresentações.

  • Gamma: ferramenta que cria apresentações envolventes e interativas. Utiliza algoritmos de IA, podendo sugerir layouts de slides, gráficos e conteúdo baseado no tópico da apresentação.

  • SlidesGPT: plataforma que permite criar apresentações de PowerPoint com a ajuda da inteligência artificial, utilizando a interface de programação de aplicações (API) do ChatGPT.

Recomendação de recursos pedagógicos

 Uma das vantagens da IA é a sua capacidade de recolher e organizar recursos educativos relevantes, pois consegue explorar rapidamente bases de dados, repositórios académicos e até mesmo a web. Além disso, a IA pode categorizar e classificar esses recursos de acordo com tópicos específicos, podendo fazer sugestões personalizadas. Com base nos objetivos de aprendizagem definidos pelo professor, as ferramentas baseadas em IA podem recomendar:

  1. Sugestões de leitura: A IA pode sugerir artigos académicos, livros e outros textos relevantes para o tópico da aula. Além disso, pode até mesmo resumir esses materiais para facilitar a revisão. Plataformas como  Perplexity AI e Consensus são exemplos de ferramentas que utilizam IA para encontrar e resumir informações em artigos científicos;
  2. Vídeos e animações: A IA pode recomendar vídeos explicativos, documentários ou animações que ilustrem conceitos importantes;
  3. Atividades interativas: Com base nos objetivos da aula, a IA pode propor atividades interativas, como quizzes, simulações ou discussões em grupo, que envolvem os alunos e promovem a compreensão ativa.

 personalização estende-se também à criação de recursos educativos, estando já disponíveis plataformas que usam IA para criar recursos educativos interativos e adaptados às necessidades de cada aluno. É este o caso de:

  • Diffit: permite a criação de atividades e avaliações personalizadas, adaptando os conteúdos a diferentes níveis de conhecimento;  
  • Curipod: permite a criação de recursos didáticos e planos de aula, gerando materiais em diversos formatos (textos, exercícios, apresentações).

Os assistentes virtuais[2], por sua vez, podem proporcionar apoio adicional, facilitando a aprendizagem autónoma e aprofundada ao esclarecer dúvidas e oferecer explicações alternativas quando necessário.

Embora seja uma ferramenta poderosa, a IA nunca substituirá a experiência e o conhecimento dos professores que devem:

  • selecionar as abordagens pedagógicas que funcionam melhor para cada grupo, pois conhecem os alunos e entendem as dinâmicas da sala de aula;
  • avaliar criticamente os materiais sugeridos pela IA, verificando a qualidade, relevância e precisão desses recursos;adaptar os materiais sugeridos pela IA ao contexto específico da sua turma, verificando se são adequados para a faixa etária, o nível de conhecimento e os interesses dos alunos;
  • garantir que os materiais utilizados cumprem padrões éticos e académicos, o que implica verificar a fonte, evitar o plágio e garantir que os materiais não discriminem ou violem direitos autorais.

biblioteca escolar surge como um elo fundamental na integração da tecnologia na escola, atuando como um centro de inovação, formação e colaboração. Ao capacitar os professores para utilizar estas ferramentas inovadoras, a biblioteca escolar promove a inovação na prática letiva. Nesse sentido, a biblioteca[3] pode:

Organizar oficinas e seminários para professores sobre os princípios básicos da IA, ética, privacidade e segurança;

Disponibilizar recursos educativos sobre IA;

Colaborar com os professores na integração de ferramentas de IA no currículo;

Incentivar a dinamização de projetos práticos que permitam aos professores explorar aplicações concretas da IA;

Apoiar a implementação de plataformas personalizadas de aprendizagem que utilizem IA;

Participar na elaboração de políticas claras sobre o uso ético das tecnologias baseadas em IA;

Promover discussões em torno da importância da privacidade digital e dos desafios éticos associados à IA.

A implementação da IA na educação abre um horizonte de possibilidades para personalizar a aprendizagem, tornando-a mais inclusivaeficaz e adaptada às necessidades individuais dos alunos. Ao diagnosticar, adaptar e enriquecer o processo educativo através da tecnologia, estamos não apenas a otimizar o ensino, mas também a preparar os estudantes para enfrentar os desafios de um futuro em constante mudança.

Notas

[1] Para saber mais sobre estas orientações da Comissão Europeia, consulte o seguinte artigo no blogue RBE: Utilização de inteligência artificial (IA) e de dados no ensino e na aprendizagem

[2] Para saber mais sobre os assistentes virtuais, consulte o artigo A Inteligência Artificial nas Bibliotecas Escolares: uma resposta estratégica aos desafios da aprendizagem - Os assistentes virtuais.

[3] Para conhecer outras propostas de ação da biblioteca escolar, no âmbito dos Planos de Ação para o Desenvolvimento Digital das Escolas, consulte o artigo  A Inteligência Artificial nas Bibliotecas Escolares: Um Contributo para o Desenvolvimento Digital das Escolas

Referências

Comissão Europeia, Direção-Geral da Educação, da Juventude, do Desporto e da Cultura (2022). Orientações éticas para educadores sobre a utilização de inteligência artificial (IA) e de dados no ensino e na aprendizagem. Serviço das Publicações da União Europeia. https://data.europa.eu/doi/10.2766/07

Fonte:RBE

 

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